A Crise

Por Paulo Henrique Schau Guerra –  www.pauloguerra.com

Hoje passei um tempo olhando o mar, a Baía de Guanabara, na verdade, e vi um pai e um filho pescando. O pai já era meio velho e o filho bastante novo, uma criancinha magra com cabelos compridos e loiros. Se a pesca ia bem, sinceramente não sei, mas o que importa é que fiquei um tempo os olhando e pude ver os dois rindo (o pai mais que o filho) enquanto esperavam que um peixe fisgasse a isca. Foi então que uma onda veio, uma onda grande o suficiente para molhá-los por inteiro, e tudo mudou.
O menino se desesperou e subiu as pedras até chegar ao meu lado e o pai continuava na beira da água segurando a vara de pesca, sendo que agora em pé e com o olhar fixo na água. O pai gritava virando para trás de relance: “Fica aí em cima, ein!”; o menino resmungava: “Meu celular tá todo molhado!”. Ali, no lugar mais inusitado, eu entendi o que é uma crise.
A Crise (do grego Krísis) significa, pela sua etimologia, um momento decisivo, uma
emergência, um risco, mas simultaneamente uma oportunidade. Portanto num momento de crise se vê uma encruzilhada em que de um lado há a possibilidade de se abster das certezas e navegar sobre os riscos e do outro há a prostração, a aceitação da derrota ou a equivocada anunciação de uma derrota autoproclamada.
O menino subiu, inexperiente que era em relação às mudanças das águas, e o pai dele manteve-se na mesma pedra em pé puxando a vara e deixando a linha de pesca toda esticada. Já era oito da noite e outra onda podia acometê-lo, mas ele continuou lá, talvez puxando um peixe enorme ou talvez um pneu velho.
Bom, quando você vir uma crise por aí pense nas duas opções que você tem: desistir ou prosseguir, de preferência com uma dose extra de ânimo.