Jakob Boehme

Jacob Boehme

“Perceber de forma pura a constituição íntima do mundo através da segunda visão só foi possível a alguém como Jakob Boehme, que podia abandonar-se às coisas exteriores de uma forma desinteressada. Qualquer linha da obra de Jakob Boehme nos fala de um imenso amor que vivia nele e com o qual ele enxergava tudo- amor que também penetrava na sua concepção das imagens refletidas do elemento espiritual contido no universo…”

Rudolf Steiner, in: “O Conhecimento Iniciático”, Antroposófica, p. 95.

“A idéia fundamental daquele que foi o 1º filósofo alemão é que tudo dever ser mantido em uma unidade absoluta- a absoluta unidade divina e a reunião de todos os opostos em Deus. […]Uma das principais idéia de Böehme é a de que o universo constitui uma única via divina e revelação de Deus em todas as coisas”

G. HEGEL, in: “Lições sobre a história da filosofia”

UMA ESCUTA ATENTA DA DEPRESSÃO

 

 

Uma tarde com James Hillman

por John Söderlund

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Esta entrevista foi traduzida mediante autorização de seu autor. O original em inglês pode ser acessado em newtherapist.com/hillman8.html.

 

Não, 90 por cento do tempo eu não permito que as pessoas me fotografem,” responde James Hillman bruscamente.

“Será que isto poderia ser parte dos 10 por cento,” eu me arrisco, dando um sorriso na direção do homem de aparência comum sentado na ponta de sua cadeira atrás da mesa, posicionada no centro do palco.

“Não, definitivamente não,” ele responde, bufando e desviando o olhar antes que o meu sorriso pudesse intervir para suavizar a pancada.
Eu me viro rapidamente, constrangido e furioso pela sensação de ter tomado um fora brutal, e sumo no meio dos dois mil ou mais membros da platéia que esperavam ansiosamente pelo discurso de Hillman.
Este é o piece de resistance no menu junguiano da Conferência Evolution of Psychotherapy de 2000, uma reunião de gurus da psicoterapia e alguns milhares de clientes bajuladores que vão beber até a última gota das palavras de seus “mestres”.

“Quem ele pensa que é,” eu resmungo para mim mesmo silenciosamente enquanto me sento no fundo do auditório e espero sua fala.

“A psicologia junguiana diz respeito, acima de tudo, à atitude,” ele começa. “Logo, o trabalho todo está em compreender esta atitude em direção à psique, ou à alma. A questão é: ‘O que é que a psique está fazendo ao apresentar o paciente com uma depressão?’”

Este é o Hillman clássico, brincando com o controverso e escorregadio tema da alma, com o qual mereceu um pouco de atenção recente no seu livro O Código do Ser. Escute relaxadamente e é atraente e empolgante. Preste muita atenção e ele apresenta mais buracos do que um queijo suíço, eu penso, ainda ferido.

“Ao invés de ver a depressão como uma disfunção, ela é um fenômeno funcional. Paralisa-te, acalma-te, deixa-te terrivelmente infeliz. Então você sabe que ela funciona,” explica Hillman, falando devagar e deliberadamente o bastante para um texto escrito à mão, transcrito palavra por palavra.

Você está fazendo uma ligação causal entre a epidemia da depressão no final do século XX e o estilo de vida que adotamos nas nações industriais do primeiro mundo, eu penso junto com algumas outras centenas de terapeutas extasiados?

“Se a história é meramente a repetição de uma estória, então não é necessariamente causal. Na visão de Jung, a causalidade é algo mais formal,” ele contra-ataca intuitivamente, desviando-se de um entendimento claro de onde está indo.

A consciência é “unilateral” na psicologia de Jung. Esta visão unilateral que retemos do mundo é complicada com a chegada de “outras partes”, continua Hillman, “aquelas deixadas do lado de fora da sala principal, que entram pela porta dos fundos.

E o que entrou, passou despercebido pela consciência, não está lá com a intenção criminosa típica de quem entra pela porta dos fundos, mas veio para perturbar o programa unilateral que a consciência tinha a intenção de perseguir. Este intruso é um agente de mudança a serviço da busca de sentido que vai além do sentido que a consciência pode nos oferecer, eu penso, enquanto Hillman dá uma pausa, permitindo aos seus ouvintes posicionar as peças desconectadas do quebra-cabeça em seus lugares corretos sem nenhuma peça de conexão. Mas as partes que faltam são facilmente posicionadas por sua platéia atenta, absorvendo-as.

“Os fatos acima mencionados são a essência da atitude junguiana para o que vem à tona na sua vida e na de seus pacientes,” resume.

A epidemia da depressão

Os jornais nos dizem que há muito mais depressão à nossa volta do que imaginamos, que ela é endêmica em nossa cultura, a maior reclamação apresentada na prática médica, nos diz Hillman novamente, resumindo alguns anos de estatísticas e projeções de saúde mental superficiais.

“Temos que fazer alguma coisa sobre a depressão!” ele diz, imitando provocativamente a principal resposta psiquiátrica aos pacientes que apresentam sintomas de depressão.
É claro, eu penso, relembrando algumas projeções recentes que acreditam que a depressão irá defasar a força de trabalho nas próximas duas décadas.

Um dos principais critérios diagnósticos para a depressão, aponta Hillman, é se sentir deprimido a maior parte do dia, praticamente todos os dias, durante duas semanas pelo menos.

“È o mesmo que colocar uma doença crônica na categoria de uma doença [?] aguda. Temos que perceber a natureza maníaca daquele diagnóstico, de que qualquer coisa que dure mais do que duas semanas em nossa cultura é longo demais”, ele diz.

“Esta é uma situação totalmente maníaca. Eu tenho que falar continuamente com vocês para vocês não se entediarem,” ele grita para a platéia. “Eu fico em frente ao meu fax, dou-lhe umas pancadas e digo: ‘Por que demora tanto para estas malditas coisas passarem?’” Soltamos uma gargalhada enquanto duas outras peças do quebra-cabeça de Hillman se encaixam.

O que a maioria dos americanos reclama é de não ter tempo suficiente nem sono suficiente. Maníacos não precisam dormir nem comer. Podemos nos sentar durante o dia inteiro na frente do computador, despenteados, nus como um doente em uma ala isolada do hospital. Então, onde é que a depressão, a lentidão, se encaixam? Como é que Saturno entra, a não ser forçando sua entrada?
A economia da depressão

O custo direto da depressão responde por apenas uma pequena parte das despesas médicas médias de uma pessoa, ele continua, mas nossa oposição frenética à depressão e o que isto representa tem uma grande semelhança em nossos temores econômicos dominantes hoje em dia.
Falamos de uma depressão econômica. Nos preocupamos com a crise de energia em termos econômicos e com a inibição da vontade em nossos pacientes. Ponderamos sobre a ameaça da poluição mundial enquanto nossos pacientes depressivos ruminam sobre suas fantasias de que seu interior está se tornando negro, de que estão sendo envenenados. Tememos o desemprego e a característica dominante dos indivíduos depressivos é que eles não conseguem levantar para ir trabalhar, aponta Hillman.

Duas vezes mais mulheres do que homens de todos os grupos raciais estão propensos a sofrer de depressão, ele continua.
“A cultura maníaca é fundamentalmente uma cultura da testosterona. Isto começou no século XIX, as mulheres eram as portadoras de uma enorme quantidade de sintomas, que elas apresentavam aos médicos”.

“Hoje em dia esta depressão ultrapassou os limites que tinha no começo da psiquiatria. Está na juventude, nas crianças, e o termo é usado muito amplamente. Mas é muito importante se voltar para que tipo de experiência aquela pessoa (que sofre de depressão) está passando.”

“Na prática, as pessoas dizerem que estão deprimidas é insuficiente, não é o bastante. Eu quero saber o que, onde, como, quais são os correlatos físicos, o que você come, o que acontece quando você está naquela cadeira e quando você se levanta da cadeira. Quero saber um monte de coisas sobre seu corpo.”

É saber o que aquela experiência depressiva está lhe dizendo como clínico, eu penso, se distanciando do diagnóstico e chegando ao âmago da experiência. Eu divago momentaneamente e penso a respeito do horário maníaco que mantenho há tanto tempo, relembrando como me sinto quando diminuo a velocidade por um minuto. Sinto-me bem por perceber o momento, eu penso, enquanto volto para a lista dos correlatos depressivos de Hillman.

“Cabelos secos, respiração curta, suspiros freqüentes, um tom diminuído ou nulo para tudo, sonolência e semblante sofrido, com uma seriedade diferente da ansiedade. Isto é muito importante. Tudo parece tão pesado, opressivo. Os romanos a chamavam gravitas, ela pertence a Saturno,” ele continua.

“Em seu treinamento você provavelmente escutou que a depressão é pior durante a manhã. Porque é que a depressão é pior durante a manhã? O que é que isto diz a respeito do dia no qual você está entrando? Será que é porque não tem um tom menor na música que tocam no rádio de manhã, porque você tem que acompanhar o nascer do sol? Temos que encontrar algum sentido nas coisas que observamos.”
Então, qual é o sentido que você encontra nisso, eu penso, ficando um pouco impaciente com o ritmo no qual ele está se movendo. Novamente, quase intuitivamente, Hillman sugere um intervalo e, na volta, liga um vídeo para passar um documentário britânico, entitulado “Kind of Blue”. Hillman é um dos primeiros entrevistados do documentário.

“Uma das coisas que você não quer ser é interrompido,” ele diz, agora com 6 metros de altura e em cores extremamente nítidas na tela, um vulto aparecendo gradualmente para a platéia.

“Você pode continuar, continuar, continuar na base de café e estimulantes. Quando você assiste os heróis na TV eles nunca se cansam. (Mas) a lentidão é básica para a noção de melancolia desde a sua primeira origem. A mania é com frequência descrita na psiquiatria como a ausência de tristeza. Perda significa perder o que se foi. Nós queremos mudar mas não queremos perder. Sem tempo para a perda não temos tempo para a alma,” ele diz retornando ao ponto.

“A melancolia nos leva a um lugar onde podemos ver mais claramente as essências da vida,” diz Jules Cashford, um escritor, ao entrevistador.

A alma conhece o caos da cultura em que vivemos. De alguma forma, se você não está de luto, você está desconectado do mundo. Então, a depressão subjacente é uma adaptação à condição obscura do mundo, explica Hillman. Toda vez que alguém cai em depressão todo mundo vem ressuscitá-lo, e temos as drogas e a terapia convulsiva para tratá-lo. Na vida comum, apenas nos levantamos e nos movemos novamente para evitar a depressão, ele continua.

O filme acaba, Hillman encolhe novamente ao seu tamanho normal e retoma a fala ao vivo. “Este filme foi considerado muito lento para a platéia americana, conseqüentemente, foi rejeitado pela PBS. Este filme pode ser parte da evolução da psicoterapia,” ele graceja, convidando o público às perguntas.

Um membro da platéia profere timidamente que ele luta para reconciliar o humanista existencial com o cientista nele mesmo quando se depara com um cliente deprimido. Será que eu ataco a depressão de uma maneira hábil ou me sento com as questões existenciais desconfortáveis que a depressão levanta?

A questão aborrece o Hillman impressionista: “Eu sugiro que você se sente com seu humanista existencial e seu cientista e que vocês três tentem chegar a uma conclusão,” ele retruca. O questionador se encolhe de volta em seu assento.

“Isto não é instrumentalismo, não é uma técnica que estou ensinando para vocês usarem. Vocês não vão persistir na esperança. Vocês vão manter a fé, e um dos caminhos da terapia que parecem mais úteis não é que você faça alguma coisa, mas que você mantenha o contato. Você é um acompanhante crônico, consistente, ao invés de ser um terapeuta que faz alguma coisa contra o problema,” ele diz.

“O que acontece é que você se torna ativado pelo silêncio ou a caída. Contra a paralisia existem os métodos super ativos de tratamento. A terapia eletroconvulsiva foi desenvolvida por um italiano que também desenvolveu fusíveis para aeronaves,” ele diz como que contando um segredo. “Na história do tratamento da depressão, havia o dunking stool (técnica de tortura onde se afogava a vítima), a purgação da bílis negra do intestino, tentativas de chocar o paciente. Todas estas tentativas representam o ódio ou a agressão contra o que a depressão representa no paciente.”

Mas Hillman não censura o tratamento du jour para a depressão – psicofarmacologia.

“Não existem razões para não tirarmos vantagem das medicações. O importante é a sua atitude perante isto, como você mantém aquele demônio em seu lugar para que não tome conta de você.” O truque, ele reitera, é manter o foco no que o paciente está sentindo, pensando, e imaginando.

“Não tenho a intenção de achar maneiras de acabar com a depressão. A depressão traz a lentidão, um movimento contrário à mania, intimidade. Ela abre a porta a algum tipo de beleza. Logo, parece haver algo lá dentro além da forma como você, o ego, enxerga,” ele conclui, completando uma imagem tosca e impressionista de um dos mais valiosos iconoclastas do mundo, que é muito mais valiosa do que aquela que pode ter sido apreendida pela minha câmera.

Tradução de Gustavo Gerhein

O Culto ao Corpo Segundo Jung

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“Não obstante, devo culpar-me de certa parcialidade, pois omiti o espírito do nosso tempo sobre o qual a maioria das pessoas se manifesta, pois é coisa evidente a qualquer um. Mostra-se através do ideal internacional ou supranacional, que toma corpo na Liga das Nações e em organizações análogas, bem como no esporte e, finalmente – o que é significativo – no cinema e no jazz. São sintomas bem característicos do nosso tempo, que estenderam o ideal humanístico ao próprio corpo. O esporte valoriza extraordinariamente o corpo, tendência que se acentua ainda mais na dança moderna. O cinema, como também o romance policial, tornam-nos capazes de viver sem perigo todas as nossas excitações, fantasias e paixões que tinham que ser reprimidas numa época humanística. Não é difícil perceber a relação desses sintomas com a situação psíquica. O fascínio da psique nada mais é que uma nova auto-reflexão, uma reflexão que se volta sobre nossa natureza humana fundamental. Por que estranhar então se esse corpo, por tanto tempo subestimado em relação ao espírito, tenha sido novamente descoberto? Somos quase tentados a falar de uma vingança da carne contra o espírito . Quando KEYSERLING denuncia sarcasticamente o chofer como o herói da cultura moderna, sua observação tem um fundo de verdade. O corpo exige igualdade de direitos. Ele exerce o mesmo fascínio que a psique. Se ainda estivermos imbuídos da antiga concepção de oposição entre espírito e matéria, isto significa um estado de divisão e de intolerável contradição. Mas se, ao contrário, formos capazes de reconciliar-nos com o mistério de que o espírito é a vida do corpo, vista de dentro, e o corpo é a revelação exterior da vida do espírito, se pudermos compreender que formam uma unidade e não uma dualidade, também compreenderemos que a tentativa de ultrapassar o atual grau de consciência, através do inconsciente, leva ao corpo e, inversamente, que o reconhecimento do corpo não tolera uma filosofia que o negue em benefício de um puro espírito. Essa acentuação das exigências físicas e corporais, incomparavelmente mais forte do que no passado, apesar de parecer sintoma de decadência, pode significar um rejuvenescimento, pois, segundo HÖLDERLIN: ‘Onde há perigo,surge também a salvação’.

JUNG, Carl Gustav. Civilização em transição. Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth. Petrópolis: Vozes, 1993, parágrafo 195, capítulo IV, volume X/3 das Obras Completas.

Entrevista com a Dra. Gudrun Burkhard

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(Entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo, suplemento Equilíbrio, em 25/1/01)

Quem é ela

Nome: Gudrun Burkhard.
Idade: 71 anos.
Profissão: Médica antroposófica, clínica-geral e terapeuta biográfica.
O que faz: Dá cursos de biografia humana para terapeutas e médicos no Brasil e na Europa.
Filosofia de vida: A cura das doenças só acontece quando o homem consegue mudar seus hábitos e harmonizar os lados intelectual e afetivo.

A idéia de que desequilíbrios da vida cotidiana contribuem para que doenças apareçam e influem na cura já foi incorporada pelo estabelecimento médico. Mas, quando se formou em medicina pela USP em 1954, a médica paulista Gudrun Burkhard teve de ir até a Suiça para estuda e como cabeça e corpo caminham lado a lado na busca pelo bem-estar. De lá para cá, Burkhard virou um dos gurus da medicina antroposófica no Brasil, fundou duas clínicas, escreveu 12 livros e formou dezenas de discípulos. Aos 71 anos, continua reclamando que a medicina clássica não enxerga o homem como um todo e insiste que mudanças de hábito são tão importantes para a cura quanto remédios de última geração. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha – Como você entrou em contato com a Antroposofia?

Gudrum Burkahard – Quando me formei em medicina pela USP, em 1954, achei que precisava completar a formação clássica que havia recebido na faculdade. Nós tínhamos uma visão unilateral das doenças e da cura, sem considerar a individualidade de cada paciente, ignorando que o homem não era só um corpo físico, que ele também sentia, pensava e agia. Pouca gente na época dava importância à influência de fatores psicológicos no desenvolvimento da doença e na busca da cura. Fui, então, para a Suíça, onde havia uma clínica que já trabalhava com medicina antroposófica desde a década de 20. Fiz minha pós-graduação lé e, em seguida, voltei ao Brasil e comecei a atender em consultório particular.

Folha – Quem eram seus pacientes?

Burkhard – Eu atendia basicamente doentes crônicos, com câncer, esclerose múltipla, que não se sentiam satisfeitos com a resposta dada pela medicina clássica. Atuava também como clínica-geral, atendia do bebê ao avô. Em 69, fundei com meu marido a Clínica Tobias, só de medicina antroposófica. Lá, os pacientes crônicos ficavam semanas internados para revitalização e desintoxicação alimentar. Como o número de pacientes com estresse cresceu muito, abrimos outra clínica em 83, a Artemísia, para atender quem precisava de descanso e revitalização para resgatar a própria vida.

Folha – Como é o trabalho na Artemísia?

Burkhard – Os pacientes vão para lá para fazer o biográfico, que é um processo terapêutico no qual eles revêem seus passos de maneira que possam trilhar melhor o futuro. Também passam por reestruturação alimentar para desintoxicar o corpo e por outras terapias, como massagens e compressas.
Folha- A alimentação é tão importante assim?

Burkhard – As pessoas devem se alimentar de acordo com o estilo de vida que levam, e a dieta deve ser adequada ao trabalho. Não é tão importante quanto você come, mas o que come. Quem faz um trabalho mais intelectual não deve comer frituras nem carnes porque o organismo fica ocupado com a digestão e a cabeça não funciona tão bem. Essas pessoas devem comer grãos integrais e alimentos ricos em vitamina D e fósforo. Já quem trabalha mais com o físico deve adotar uma diética energética, abusar de massas e outros alimentos ricos em hidrato de carbono e com muita vitamina B.

Folha – Maus hábitos no dia-a-dia adoecem alguém?

Burkhard – Claro. Alimentação errada, falta de equilíbrio entre o lado afetivo e o profissional, uma vida cheia de conflitos, tudo isso influencia a saúde física do homem. Os desequilíbrios provocam distúrbios psicossomáticos, que podem resultar em estresse ou até câncer. A doença aparece para alertar que existe um desequilíbrio, e só o uso de remédios não vai resolver o problema. É preciso mudar os hábitos. Só que a maioria das pessoas ainda não se dá conta da importancia de os vários campos da vida estarem em harmonia. Tem gente que desenvolve muito o plano intelectual, mas deixa o sentimental de lado. Essa desarmonia cria espaço para que as doenças apareçam. Para ser saudável, é preciso descobrir se a pessoa obtém realização pessoal no trabalho, nas relações familiares, se ela tem tempo para fazer as coisas de que gosta ou se vive sempre em conflito.

Folha – Se a doença levar a hábitos mais saudáveis, então ela não é de todo ruim…

Burkhard – A doença é um alerta para mudar o ritmo do dia-a-dia. Fatores psicossomáticos afetam o corpo físico, a doença se manifesta, e a pessoa é forçada a dar uma parada obrigatória. O ideal seria que fizéssemos pequenas paradas espontâneas para ver como está a vida, mas ninguém faz isso. Quem leva uma vida cheia de desarmonia e não pára de vez em quando para corrigir o caminho que está trilhando termina sendo obrigado a parar quando a doença surge. Essa parada pode ser uma grande oportunidade para olhar para trás e ver o que está em desacordo com os desejos da pessoa.

Folha – E como se dá a cura?

Burkhard – O processo de cura começa com a busca do conhecimento interno, que é feito com o biográfico. Também damos aos pacientes a oportunidade de se expressarem pela pintura, modelagem, música. Cada um vai descobrindo aquilo que gosta, o que incomoda. O biográfico não é só uma forma de diagnóstico, é um processo altamente terapêutico. O autoconhecimento é fundamental para conseguir bem-estar e saúde. Você precisa conhecer as diversas paisagens por onde já passou para poder redirecionar o futuro adequadamente.

Adote uma Criança, Mude um Destino


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A AMB, Associação dos Magistrados do Brasil, lançou uma campanha para estimular as adoções em todo o Brasil, através da sensibilização dos juízes para agilizarem os processos. A campanha chama-se Mude um Destino.

O problema da adoção se agrava quando as crianças têm mais de um ano de idade, são negras, têm irmãos na mesma situação ou apresentam algum problema de saúde. Segundo a advogada Roberta Avisato , 70% dos casais presentes no cadastro nacional dos Juizados da Infância e da Juventude procuram meninas brancas, de até seis meses. A especialista atua na área Trabalhista, mas começou a defender casos de adoção, por conta de uma experiência pessoal: ainda noiva, encantou-se com um menino num abrigo para menores e ganhou na Justiça o direito de protegê-lo. Ela conta que apenas 5% dos processos de adoção que ocorrem no estado de São Paulo são realizadas por pais que podem ter filhos, mas optam por acolher uma criança.

Segundo a advogada, o primeiro passo de um casal que pensa em adoção é procurar a Vara da Infância e da Juventude de sua cidade e realizar o cadastro de adoção. Eles vão passar por entrevistas, terão seu perfil social traçado, vão apontar as características da criança de que gostariam e será aberto o processo. Quando alguma criança que atenda aos dois perfis aparecer no cadastro, eles serão chamados para conhecê-la.

Francisco Oliveira Neto, juiz da Vara da Infância e da Juventude de Florianópolis (SC), membro da Associação dos Magistrados Brasileiros e coordenador da campanha Mude um Destino da AMB, o número de adoções poderia ser maior caso diminuíssem as exigências dos casais.

– Não é a burocracia do Estado que atrasa os processos de adoção. Nos juizados, temos um livro de cadastro de pais que se dispõe a adotar e outro com as crianças dos abrigos. Fazer esse casamento é a parte mais difícil – explica Franscisco Oliveira Neto.

O juiz reforça que não há custos para o casal com o processo de adoção – a menos que eles queiram contratar um advogado particular – e que, uma vez dada a sentença, a decisão da Justiça é irrevogável: os pais biológicos perdem seus direitos sobre a criança e a identidade da família que a adotou é mantida em sigilo.

– Cumprir os procedimentos legais é a melhor forma de se proteger e dar segurança à criança. Muitos pais biológicos iniciam um processo de coação ou extorsão por sentirem que quem adota contrai uma espécie de dívida com eles – alerta.

Se as mães biológicas têm nove meses para se preparar para a chegada do bebê, com as mães adotivas o tempo de espera é incerto e cheio de dúvidas. A psicóloga e professora da PUC-RS Iraci Argimon, orienta os casais a terem uma decisão bem amadurecida, antes de procurar uma criança:

– Enquanto houver dúvidas, converse. Se o diálogo entre o casal não for suficiente, procure um especialista. Isso é um respeito com eles mesmos e com a criança – alerta. – Ela não deve vir para segurar nenhum casamento: vai ter um papel tão importante quanto o de seus pais.

Em caso de crianças maiores, essa preocupação deve estar ainda mais presente:

– As crianças costumam se vincular de forma ainda mais forte por medo inconsciente de um novo abandono. Apenas uma relação bem madura entre mãe e filho pode equilibrar essa insegurança.

Mas às vezes o destino se encarrega de antecipar os fatos. Pediatra, Maria Noemi Mac Culloch, era solteira quando recebeu, no Hospital da Funabem, em que trabalhava, um bebê abandonado pelos pais que despertou sua compaixão. Ela entrou com o pedido de adoção e conseguiu a guarda de Pedro Ivo, que hoje tem 12 anos. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, homens e mulheres acima dos 18 anos podem adotar uma criança independentemente de seu estado civil.

– Desde a primeira vez que o peguei nos braços, senti que era meu filho. De repente, me vi invadida de um amor muito grande por aquela criança que nunca tinha visto. Minha capacidade de amar, de me dar cresceu muito. Sinto como se ele tivesse nascido mesmo de mim, é meu filho – resume Maria Noemi.

Na minha família, tanto pelo lado paterno quanto materno, tenho vários parentes adotivos, irmãos, tios, primos, e posso dizer que o amor não é diferente em relação a um consangüíneo. Percebo que ainda existe um preconceito em relação à adoção, e muitos casais tentam deseperadamente engravidar, às vezes correndo riscos, mas não dão um passo em direção à adoção que lhes deixaria realizados como pais! Um grande abraço para Andréa, Mônica e José Victor, meus irmãos.

Aqueles que já se foram…

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O meu amor esteja contigo na região do espírito.

Deixe encontrar a tua alma

Pela minha que procura

Deixe suavizar o teu gelo

Pelo meu pensamento da tua essência

Assim estamos ligados

Eu contigo

Tu comigo.

Como alma eu não estou na Terra,

Porém na água, no ar e no fogo;

No meu fogo eu estou nos planetas e no Sol.

No meu ser solar

Eu estou no céu das estrelas fixas.

Como alma eu não estou na Terra,

Porém na luz, verbo e vida.

Na minha vida, eu estou no interior

Do Ser planetário e solar:

No espírito da sabedoria.

No meu ser de sabedoria

Eu estou no espírito do amor.

Nenhuma barreira pode separar

Aquilo que mantém unido no espírito

O resplandescente

E radiante amor

Eterno liame das almas.

Como estou eu na tua memória

Assim estejas tu na minha.

(Rudolf Steiner)