Estou com câncer

Cáncer_de_próstata

 Terça-feira de manhã, atendendo no consultório. O resultado da biópsia chegou: adenocarcinoma de próstata. Câncer! Ainda faltavam 3 pacientes para atender, sendo que 2 já estavam na sala de espera. No panic! Tomei uma água, que nos filmes parece ter um enorme poder calmante… Abri a porta, chamei o paciente e… o atendi normalmente. Mergulhei no problema dele e, pelo tempo da consulta, esqueci do meu. Quando ele saiu, estranhei a mim mesmo. Sempre que eu informei um paciente sobre um diagnóstico de câncer, imaginava como seria se fosse comigo, e achava que eu fosse ficar meio em pânico. Não fiquei. Estava aparentemente normal. Avisei à minha namorada, que deu um jeito e veio correndo para cá. Acho que ela estava mais desesperada do que eu…

Ser médico ajuda, mas também atrapalha. Com os resultados anteriores de PSA, já tinha uma suspeita grande de estar com câncer, mas todos me diziam pra não me preocupar, que “com certeza” eu não estava com câncer. A estatística estava certa, eu estou com câncer. Agora espero estar dentro da estatística em relação às metástases, porque a minha idade e o tamanho da próstata, além de outros fatores, indicam que é muito improvável que eu tenha qualquer metástase.

Meu urologista e amigo de décadas está afastado do trabalho por… câncer. Ele me indicou um colega que não conhecia pessoalmente e, por uma das coincidências da vida, sua secretária tornou-se minha paciente há menos de um mês e eu nem sabia disso. Ela arrumou um horário urgente. Fui com minha namorada e gostei do urologista, pedi a ele que esquecesse que sou médico e me dissesse qual era o procedimento que ele geralmente fazia. A resposta: retirar a próstata em uma cirurgia aberta, ou seja, corta a barriga, retira a próstata e o que estiver afetado em volta. Uma preocupação para quem é profissional liberal: quanto tempo sem trabalhar? Pelo menos uns 45 dias. Marcamos a cirurgia para 2 semanas, tempo suficiente para eu realizar mais exames e pesquisar metástases. Saí do consultório e já pedi para minha secretária ligar para a clínica de imagens e marcar. Minha namorada entrou em contato com sua amiga que é médica dessa clínica e antecipou os exames. Logo eu que não gosto de pistolão, dando carteirada de todo jeito.

Avisei os filhos, minha mãe, irmãos, amigos mais chegados. Resolvi que não preciso esconder isso de ninguém. É uma doença, e não algo que eu me envergonhe, não participei do petrolão.

Não me sinto desesperado, mas tenho pressa. É como se eu estivesse com o Alien, o 8º passageiro, dentro de mim. É apenas o primeiro passo de uma jornada que acredito que seja longa e difícil. Com fé, eu dou o primeiro passo!

Você decide sua vida?

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“O ser humano não é completamente condicionado e definido. Ele define a si próprio seja cedendo às circunstâncias, seja se insurgindo diante delas. Em outras palavras, o ser humano é, essencialmente, dotado de livre-arbítrio. Ele não existe simplesmente, mas sempre decide como será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte.”

Viktor Frankl

A Individuação segundo Goethe

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“Quem sou eu? O que eu fiz? Eu recolhi tudo aquilo que observei e aprendi. Minhas obras foram alimentadas por uma multidão de indivíduos diversos, de ignorantes e sábios, de sagazes e tolos. Infância, idade madura e velhice – todas vieram me oferecer seus pensamentos, seus poderes, sua maneira de ser. Muitas vezes recolhi aquilo que outros semearam. Minha obra é a de um ser coletivo e leva o nome de Goethe.”

(17 de Fevereiro de 1832)

“Conversações com Goethe” by Johann Peter Eckermann.

Transcendência e Auto-Realização

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Uma pessoa sempre está projetando-se para além de si mesmo, dedicando-se a alguém ou a alguma coisa, em nome do amor. Desta forma, a pessoa pode encontrar sentido no mundo exterior. O homem transcende sua existência ao amar outra pessoa ou dedicar-se a alguma causa, ao invés de ficar fixado em seu umbigo, contemplando-se. A auto-realização é conseqüência desta transcendência, e isto pode ser percebido em diversos exemplos de personalidades famosas, como Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá (mesmo com seus conflitos em relação à fé), Gandhi, etc. Guardadas as devidas proporções, podemos encontrar esta transcendência em situações do nosso cotidiano como, por exemplo, na dedicação a nossos papéis familiares, como pais, filhos, irmãos. Assim, a melhor maneira de conseguir a felicidade é dedicando-se a causas desinteressadas.

Pó e Luz

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“Não há oposição entre o conhecimento de si mesmo que a psicologia propõe e o conhecimento de si mesmo que a espiritualidade propõe. Porque uma psicologia que não se abre a um itinerário espiritual corre o risco de nos enclausurar e, mesmo, nos desesperar. (…) Assim, o que impressiona em um ser humano que entrou neste caminho de transformação é, ao mesmo tempo, sua grandeza e humildade. Ele sabe que é pó e que ao pó retornará. Mas sabe também que é luz e que à luz retornará. E o que é o ser humano, senão esta poeira que caminha para a luz e que dança nela? É a este caminhar, a esta marcha que nós somos convidados por Fílon de Alexandria, Francisco de Assis e Graf Durckheim. E a vocês todos, desejo uma boa caminhada, um belo itinerário, com cumes e vales a atravessar. Porque o importante mesmo é caminhar!”

Extraído do Prefácio do livro Terapeutas do Deserto, de Leonardo Boff e Jean-Yves Leloup

Vida e Destino

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As almas em seus carros alados, quando antes de encarnar, chegam a um grande descampado, dão uma olhada para o alto. Contemplam em seus pedestais, a Justiça, a Beleza, o Pensamento, a Temperança, o mundo das idéias eternas e imutáveis, que ficam na “planície da Verdade”, diz Platão. Logo em seguida, elas escolhem o que vai ser a “sua vida efêmera”, à qual permanecerão ligadas por obra de Necessidade. Deusa caprichosa, ela, que tece seu fuso, e suas filhas, as temidas Parcas, cortam o fio da existência quando querem. Bebendo no rio do Esquecimento, prossegue o mito, perdemos a memória dessa escolha inicial de nossas almas – sem culpa nem responsabilidade de ninguém mais – cujo vínculo permanece no EU interior, nosso guia e destino ao mesmo tempo.

O Sentido da Vida

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O sentido da vida apresenta-se de duas formas, uma mais imediata e uma mais transcendental, e ele manifesta-se pela vocação, que é uma palavra derivada da palavra “voz”. A vocação, portanto, é um chamado para uma tarefa a ser realizada no presente, mas que aponta para o futuro.

Em determinados momentos da vida, ouvimos internamente um chamado, assim como nos contos de fadas e nos mitos. Como reagimos ao chamado? Nos lançamos à aventura de viver o destino que trazemos impresso em nosso eu interior ou fingimos que não o ouvimos e, com medo do desconhecido, nos fechamos em padrões de comportamento aos quais já nos habituamos, mesmo que não sejam agradáveis, mas pelo menos já estamos acostumados a eles?

A filosofia e a ciência, desde o início da Renascença têm se esforçado para fazer crer que não existe um sentido transcendental para o ser humano. Provavelmente como reação aos abusos cometidos na Idade Média em nome de Deus, cujo nome foi usado para justificar toda sorte de explorações e absurdos.

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O rápido desenvolvimento tecnológico que começou no século XX nos faz sentirmo-nos parte de uma engrenagem, que funciona por si mesma e que não possui um sentido transcendente. Qual a conseqüência disso? A depressão, a superficialidade das relações, o vazio existencial. Afinal, se eu sou apenas uma parte de um mecanismo, eu posso ser substituído sem prejuízos para tal mecanismo. É para isto que eu sirvo? O ser humano enquanto indivíduo, enquanto ser único, imbuído de uma missão de vida, imbuído de qualidades únicas, ficou relegado a um segundo plano, talvez terceiro ou quarto.

E, no entanto, o ser humano sofre! Sofre por não perceber o sentido maior de sua vida. O resgate deste sentido, desta missão, deste destino, é hoje prioridade para o homem, para que possa alcançar maior realização em sua vida e levar felicidade e realização à vida dos outros.

A infância influencia a saúde do adulto

criancatriste12Como adultos, passamos diariamente por situações de estresse, maiores ou menores. Elas podem aparecer no trabalho, na rua, ou em casa. Alguns reagem ao estresse com alterações no humor, tornando-se mal humorados e tristes; outros com alterações na sua saúde psíquica, desenvolvendo doenças como depressão, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico, conflitos em relacionamentos, insônia; outros ainda adoecem fisicamente, com doenças que habitualmente são classificadas como psicossomáticas, como a doença do intestino irritável ou certos casos de asma. Ainda há um grupo de pessoas que desenvolve doenças que até pouco tempo acreditava-se que fossem puramente orgânicas, como diabetes, hipertensão, arteriosclerose. Contudo, há um grupo de pessoas que, sob o peso das mesmas situações de estresse, não adoece nem física nem emocionalmente. Essas diferenças atraíram a atenção do Neurobiólogo canadense Michel Meaney, da Universidade McGill, em Montreal. Suas pesquisas indicam que as diferentes reações ao estresse são condicionadas na infância. Conflitos familiares constantes, abusos físicos ou sexuais em crianças, uma educação muito severa ou negligência nos cuidados ou na educação que a criança precisa, são fatores que predispõem o futuro adulto a adoecer com mais facilidade, tanto mentalmente como fisicamente. Há um fator genético também envolvido, mas as experiências da infância são determinantes. A criança passa não só por um crescimento em tamanho, mas pelo amadurecimento de seus órgãos internos. O sistema nervoso central e o sistema endócrino, com suas glândulas e hormônios, estão em formação e são muito afetados pelas experiências dolorosas da infância. Essas experiências marcam a forma de reação ao estresse, como uma informação que fica impressa no corpo, e se repete sempre que a pessoa se encontra diante de situações que inconscientemente têm relação com os sofrimentos da criança. Daí que muitas reações ao estresse parecem infantis, porque é a criança machucada que está atuando! Quando o adulto, por um trabalho terapêutico, reconhece as feridas físicas e emocionais que a sua criança interior carrega, ele dá o primeiro passo no sentido de acolher esta criança que ele foi e libertar sua vida de adulto daquelas reações infantis, permitindo-se viver como uma pessoa livre e responsável. Porque é uma prisão reagir sempre da mesma maneira ao que acontece em nossas vidas e, quando podemos deixar de agir conforme o padrão e mesclar o pensar e o sentir antes de agir, esta é a maior liberdade que podemos almejar!

Páscoa e Liberdade

A Páscoa é comemorada pelos judeus e pelos cristãos. Para os judeus, representa a libertação da escravidão no Egito, mais especificamente, a passagem do anjo da morte matando os filhos daqueles que escravizavam os judeus. Para os cristãos, representa a ressurreição de Jesus no 3º dia após sua morte. Em ambas as situações, a Páscoa simboliza a vitória sobre a morte.

Podemos pensar na morte em si, mas também nas ‘mortes’ que vivemos diariamente, como a morte dos nossos sonhos, das nossas ideologias. A maior morte que vivemos é viver uma vida sem sentido, presos a convenções sociais, repetindo hábitos e costumes, enquadrados em padrões de comportamento. A liberdade maior é encontrar o sentido da própria história e viver dentro deste sentido. E isto não é fácil, mesmo porque a liberdade que nos é presenteada não é liberdade de verdade. Para sermos livres precisamos lutar pela nossa própria liberdade.

Uma dica para esta Páscoa: assista o filme Um Sonho de Liberdade e preste atenção ao discurso do personagem vivido por Morgan Freeman.

Feliz Páscoa e busque sua liberdade do que lhe amarra a partir dela!

Um Sonho de Liberdade