Reinvenção


A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas…
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo… – mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço…
Só – no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só – na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Cecília Meireles

RETRATOS DA VIDA – Panorama Biográfico em Nova Friburgo

A Terapia Biográfica tem o objetivo de encontrar sentido através da observação de fatos da própria vida, que são revistos de maneira objetiva, separando o que são fatos do que são sentimentos. A maior causa de sofrimento emocional ocorre por não percerbermos o sentido de nossas vidas. Com a Terapia Biográfica, reconstruimos o trilho que liga os fatos a um sentido ordenado.

Para isto, além de falar sobre os fatos, são realizadas atividades artísticas variadas, que permitem um suporte material para a memória, além de trazer um elemento lúdico que torna esta forma de terapia bem mais agradável. Nesta Vivência em especial, trabalharemos com imagens, principalmente de fotografias dos participantes, resgatando fatos e emoções. A arte faz a ligação do pensar com o sentir, através do agir, sem intelectualizações, quebrando as resistências ao processo da Psicoterapia. Assim, nos propomos metas de mudanças em nossas próprias vidas baseadas naquilo que nos é mais sagrado, nossa própria história.

Em Nova Friburgo, de 15 a 18 de janeiro de 2009, no Morgenlicht.

Coordenadores:

  • Rosângela Cunha

Psicóloga, Gestalt-terapeuta e Terapeuta Biográfica

  • Marcelo Guerra

Médico Homeopata e Terapeuta Biográfico

Escreva para santana@terapiabiografica.com.br ou marceloguerra@terapiabiografica.com.br para mais informações. Ou ligue para falar com um de nós:

(21)7697-8982, Marcelo

(32)8841-8660, Rosângela

VAGAS LIMITADAS

Um casal é 1+1

Este texto é o prefácio da excelente cronista Martha Medeiros a respeito do amor.

Martha Medeiros*

A porta se abre. Ela entra primeiro, e ele logo atrás. Alinham-se e continuam a caminhada festa adentro, acabaram de chegar. Quem são eles? Um casal, apenas. E não importa que haja uma infinitude de casais formados no planeta: sempre que estamos diante de um, algum magnetismo ele nos provoca.

Um casal nunca é uma unidade, por mais que se tenha tentado difundir a idéia absurda de “dois em um”. Esta teoria serve para aparelhos eletrônicos, não para seres humanos. Um casal é formado por duas individualidades que, num determinado momento, cruzaram seus olhares e a partir disso potencializaram suas vidas. Uma das minhas distrações prediletas é observar um casal na fila do cinema ou namorando na beira da praia e pensar: em que circunstância um interceptou o caminho do outro? Talvez tenham sentado lado a lado num avião, talvez tenham se cruzado dentro de um hospital, quem sabe até se odiaram à primeira vista. Quem terá dado o primeiro passo para iniciar uma relação que selou seus destinos?

Este livro que você tem nas mãos conta um pouco sobre os bastidores amorosos de casais notórios. Lampião, o cangaceiro vingativo e violento, era também romântico a ponto de ter casado com Maria Bonita, primeira mulher a marcar presença no interior do sertão. Salvador Dalí, o gênio do surrealismo, inverteu a ordem natural das coisas: enquanto na Espanha era costume as esposas assinarem seus nomes como se elas fossem propriedade dos maridos (esperava-se que Gala assinasse “Gala de Dalí”), ele é que passou a assinar “Dalí de Gala”.

Jorge Amado foi aconselhado por um amigo a não se aproximar de Zélia Gattai porque não era mulher pro bico dele, e ainda bem que homens apaixonados não escutam ninguém. Yoko Ono é acusada até hoje de ter sido o pivô do fim dos Beatles, mas a verdade é que ela e o finado Lennon seguem sendo um dos casais mais emblemáticos do século 20. Napoleão só pensava em guerra? Que nada, era em Josefina que sua cabeça estava o tempo todo, mesmo quando ele batia ponto nos campos de batalha. O que estes artistas, imperadores, heróis, mártires e justiceiros têm a ver com o resto da humanidade? Sabiam que a solidão não soma, apenas subtrai.

Um casal é 1 + 1. Uma tímida com um extrovertido. Um esportista com uma intelectual. Uma sonolenta com um boêmio. Um duro com uma ricaça. São muitos homens e mulheres (e demais arranjos) com bem mais diferenças do que afinidades: almas gêmeas é coisa que não existe, lamento informar. As combinações são sempre bombásticas e efervescentes, pelo simples fato de que ninguém nasceu para ninguém, apenas temos a sorte de vivenciar um encontro que muda o rumo da nossa história. Todo casal é transgressor, todo amor margeia o impossível. Por mais que as revistas tentem dar dicas de sobrevivência conjugal e sinalizem sobre como deve ser um casamento perfeito, a verdade é que cada dupla estabelece suas próprias regras e ninguém consegue catalogá-las: todos os casamentos estão fora dos padrões. Nada é mais exclusivo e dinâmico que um casal. A não ser que já não seja um casal, que os dois tenham se transformado em 1 – 1.

Este livro relembra affairs que se tornaram romances célebres e marcaram época. Numa análise ligeira, parece uma seleção de poucos eleitos que viveram o idílio de uma paixão inesgotável. Mas vamos ser justos: não há entre nós, simples mortais, quem não tenha vivido também uma bela história pra contar.

* Prefácio do livro “Casais – Histórias de amor que resistem ao tempo”, da Editora Nova Fronteira

A Crise

Por Paulo Henrique Schau Guerra –  www.pauloguerra.com

Hoje passei um tempo olhando o mar, a Baía de Guanabara, na verdade, e vi um pai e um filho pescando. O pai já era meio velho e o filho bastante novo, uma criancinha magra com cabelos compridos e loiros. Se a pesca ia bem, sinceramente não sei, mas o que importa é que fiquei um tempo os olhando e pude ver os dois rindo (o pai mais que o filho) enquanto esperavam que um peixe fisgasse a isca. Foi então que uma onda veio, uma onda grande o suficiente para molhá-los por inteiro, e tudo mudou.
O menino se desesperou e subiu as pedras até chegar ao meu lado e o pai continuava na beira da água segurando a vara de pesca, sendo que agora em pé e com o olhar fixo na água. O pai gritava virando para trás de relance: “Fica aí em cima, ein!”; o menino resmungava: “Meu celular tá todo molhado!”. Ali, no lugar mais inusitado, eu entendi o que é uma crise.
A Crise (do grego Krísis) significa, pela sua etimologia, um momento decisivo, uma
emergência, um risco, mas simultaneamente uma oportunidade. Portanto num momento de crise se vê uma encruzilhada em que de um lado há a possibilidade de se abster das certezas e navegar sobre os riscos e do outro há a prostração, a aceitação da derrota ou a equivocada anunciação de uma derrota autoproclamada.
O menino subiu, inexperiente que era em relação às mudanças das águas, e o pai dele manteve-se na mesma pedra em pé puxando a vara e deixando a linha de pesca toda esticada. Já era oito da noite e outra onda podia acometê-lo, mas ele continuou lá, talvez puxando um peixe enorme ou talvez um pneu velho.
Bom, quando você vir uma crise por aí pense nas duas opções que você tem: desistir ou prosseguir, de preferência com uma dose extra de ânimo.