Pequenos gestos podem representar muito para alguém. Às vezes quem o fez logo esquece, mas quem o recebeu pode não esquecer jamais. Esse gesto pode ser algo bom ou algo ruim. Quando é algo desagradável, quem não esquece fica amarrado nas cordas do rancor, da mágoa. Quando o gesto é positivo, o não esquecer significa gratidão.
Minha filha mais nova hoje completa 11 anos. Quando ela tinha 1 ano, fizemos uma viagem a Salvador, toda a família junto, andando como bando pelos pontos turísticos. Num desses passeios, fomos ao Mercado Modelo, e estávamos na praça ao lado, de frente para o Elevador Lacerda, onde há artesãos vendendo seus produtos e mulheres que fazem tererê no cabelo dos turistas. As meninas mais velhas, na faixa de 8 anos, queriam enfeitar o cabelo, e paramos numa dessas barracas. A pequenininha já andava, e ia de mão dada, ora comigo, ora com a mãe, ora com a avó, ora com a tia, ora com um dos irmãos mais velhos. De repente, pergunto com quem ela está, e ninguém sabe responder. Entre a praça e o Elevador Lacerda há uma rua de grande movimento de carros e ônibus.
Corremos naquela direção e logo a vimos, de mãos dadas com um garoto, vindo em nossa direção. Ele explicou que ela ia atravessar a rua sozinha, e ele lhe deu a mão e trouxe de volta. Ficamos com vergonha pela negligência e felizes e aliviados por estar tudo bem, mas mais do que isso, ficamos muito agradecidos àquele menino que agiu como um anjo, que aparece do nada e faz o que é certo, sem importar a quem! Ele vendia cabaças, que compramos aos montes, sem nem saber para quê.
Hoje fomos tomar um café da manhã no Superpão para comemorar o 11º aniversário. No final, a abracei e disse no seu ouvido: “Sou muito feliz por você existir e ser minha filha.” E ela respondeu:”Se não fosse o carinha de Salvador…”
O susto deve ter sido grande, não? Mas ainda bem que apareceu o rapaz…. De todo modo, acredito que tenham aprendido a lição, hehehe.