Terapia Biográfica e Vocação – 2a parte
No artigo anterior expliquei que a Terapia Biográfica pode revelar o sentido da vocação de cada pessoa. E mostrei as influências do primeiro setênio para a formação dos talentos que desabrocharão na vida adulta.
Agora vamos nos aprofundar no segundo setênio, que inicia-se por volta dos 7 anos, com a troca acelerada dos dentes de leite por permanentes e termina com o estabelecimento da adolescência, por volta dos 14 anos. Nele, a criança, que até então tinha como referência quase que integral a sua própria família, passa a dividir-se entre dois mundos: a casa e a rua, onde estão os amigos, a escola e a maior parte das brincadeiras.
REGRAS E NORMAS
As brincadeiras, que antes tinham suas regras inventadas pelas próprias crianças, geralmente com frases começando por “faz de conta que…”, “finge que…”, nesta fase estão sujeitas a regras externas, como os jogos e os esportes. Brincar de pique, por exemplo, tem regras que vão passando de geração para geração. Jogar futebol ou queimada também tem regras que não se sujeitam ao “faz de conta que…”.
As normas também vão ficando mais fortes em casa e na escola. A criança já é maior, e dela se espera um pouco mais de responsabilidade. Essas normas vinculam-se aos ritmos e horários da família, por exemplo: ter hora para comer, hora para tomar banho, hora para dormir, hora para brincar, hora para estudar. Também são de grande importância as normas relacionadas à divisão entre os sexos, tais como “menina não senta de perna aberta”, “menino não chora”, e por aí vai.
São limites que representam necessidades sociais e os costumes de uma família, por isso variam de lugar para lugar e também em cada família. Os limites precisam ser justos, nem rígidos demais que façam a criança sentir-se acorrentada, nem frouxos demais, que a façam sentir-se com uma autoridade precoce (que ela não saberá usar e poderá prejudicá-la na vida adulta) sobre a própria família.
AUTORIDADE E RESPEITO
A criança encontra várias figuras de autoridade nesta fase, mas receberá uma enorme influência daquela que além de ter autoridade e merecer respeito, ofereça-lhe um tratamento acolhedor, carinhoso e cuidadoso. É dessa pessoa que ela se lembrará com frequência em sua vida adulta, quando estiver diante de situações, como escolhas éticas, em que precise tomar decisões que requeiram um comprometimento seu. Essa pessoa pode ser um familiar próximo, ou uma professora, uma vizinha. Seja qual for a sua origem, ela marcará a biografia dessa criança e será sua referência pela vida afora.
A maneira como uma criança recebe regras e normas se refletirá em sua vida adulta, tanto em âmbito pessoal e familiar, como no mundo do trabalho.
Trabalhar requer estar sujeito a várias regras, inerentes ao próprio trabalho ou ao relacionamento entre os colegas. Acatar regras cegamente pode ser a via mais fácil, mas certamente trará cicatrizes internas, pelos “sapos” que uma pessoa vai precisar engolir. É uma atitude herdada do primeiro setênio, quando a criança imita os adultos como forma de descobrir o mundo. Rebelar-se sistematicamente contra elas (que é a atitude predominante na adolescência) também é uma atitude extrema, que trará mais problemas do que soluções à vida do sujeito. Saber discernir o que pode ser aceito daquilo que se deve tentar mudar depende de ter recebido regras justas na infância.
A figura da autoridade amada pode ressurgir na vida adulta, desta vez como um tutor ou mentor, alguém mais velho e mais experiente que reparte sua sabedoria adquirida com um jovem que está começando. É uma simbiose, na qual soma-se à sabedoria de alguém experiente a vitalidade e vontade de um iniciante. É uma aliança que pode ser muito benéfica para ambos e para a empresa em que trabalham.
Saber respeitar regras sem dobrar-se a elas é um aprendizado difícil, mais ainda para quem recebeu uma educação ou repressora demais ou excessivamente liberal. Enquanto alguns pais e professores exigem uma obediência cega aos seus ditames, outros dão à criança ainda imatura uma autoridade que pode transformá-la em um adulto déspota, que não admite contrariedades ou frustrações.
Conciliar as regras com uma atitude empática, carinhosa e apoiadora permite à criança entender o objetivo das regras e desenvolver-se num adulto que sabe discernir o que precisa ser respeitado do que precisa ser modificado, com propostas e não com força, como aprendera pela convivência com uma autoridade amada.
RELEMBRE ESSA FASE DE SUA VIDA
Você reconhece alguém que tenha ocupado esse papel de “autoridade amada” em sua vida? O que você admirava nessa pessoa?
Como eram as normas recebidas em sua família?
O que percebia como valorizado numa profissão pela sua família? Ganhar dinheiro? Ter sucesso? Realizar-se como pessoa?
Como você sente que isso possa ter influenciado suas escolhas profissionais?
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